Como surgiu a #Hashtag?

“Essas coisas são para nerds. Isso nunca vai pegar.” Essa foi a resposta do Twitter à sugestão de Chris Messina, estudante americano de design de comunicação, que propôs usar o símbolo # (hashtag) para agrupar mensagens de um mesmo assunto publicadas no microblog, marcadas por um nome comum.

Passaram-se sete anos e as hashtags não apenas tomaram o Twitter e a Internet, como também se transformaram numa espécie de linguagem social, usada em diferentes meios de comunicação – de campanhas publicitárias a cartazes em protestos. Nada mal para uma “coisa de nerd”, não é? Mas esse sucesso não foi tão espontâneo quanto parece.

O começo

Antes do Twitter, outros tipos de redes sociais já usavam o chamado símbolo do “jogo da velha”, tralha ou cerquilha para sinalizar o tema de grupos de conversa. Ela era muito comum nos tempos do saudoso IRC, para marcar o nome de uma sala de bate-papo. A mesma lógica era usada para classificar canais no Jaiku, uma espécie de concorrente do Twitter, depois comprado pelo Google e descontinuado.

Messina inspirou-se nessas experiências para criar uma solução para o problema do então recente microblog, criado em 2006: a organização. Ainda que o Twitter fosse muito bom para a publicação rápida, era um tanto difícil de navegar pelos tuítes dos diversos usuários.

O estudante buscava uma maneira de organizar os diferentes posts em canais de conversa, até que pensou em links através dos quais os usuários pudessem acompanhar o que estava sendo falado sobre os temas de seu interesse. Uma forma de fazer isso era sinalizar o assunto do post com um marcador. “Cada vez que alguém usa um marcador em um status, não apenas sabemos algo específico sobre aquele post, como outros também podem ver o contexto e se juntar ao canal para contribuir”, escreveu Messina em seu blog.

Ele também ressaltou a diferença entre a ideia e a marcação com arroba (@), usada para marcar usuários nas mensagens: “Ao invés de conversas entre poucos indivíduos marcados com o “@”, o uso de “#” faz com que pessoas não marcadas também possam acompanhar a conversa”, explica ele, que dá o exemplo do Flickr e do Delicious.

A primeira hashtag no Twitter é de autoria de Messina, no tuíte que já se tornou uma peça histórica:

Primeiro tuíte a usar hashtag foi do próprio criador Chris Messina (Foto: Reprodução/Twitter)
Primeiro tuíte a usar hashtag foi do próprio criador Chris Messina (Foto: Reprodução/Twitter)

O início da popularização

Como o Twitter não se empolgou com a criação, Messina tentou popularizá-la por seus próprios meios. A sua grande chance veio de modo inesperado: com um incêndio.

Em outubro de 2007, uma série de incêndios assolaram as florestas de San Diego, na Califórnia. Moradores da região usaram o microblog para reportar o que estava acontecendo, mas a falta de um método eficaz para organizar as publicações dificultava a vida de quem buscava por essas informações.

Messina telefonou para o seu amigo Nate Ritter, um dos cidadãos que reportava os incêndios no Twitter, e pediu para que ele marcasse as postagens com “#sandiegofire”. Foi o primeiro exemplo de cobertura ao vivo de um evento com o uso de hashtags.

“(Hashtags) representam o que eu acho que é uma convenção sólida para coordenar agrupamentos de assuntos específicos e dar às pessoas um jeito de organizar as suas comunicações de um modo que o Twitter ainda não disponibiliza. (…) o exemplo da #sandiegofire mostra o problema que eu gostaria de ver resolvido”, conta Medina, numa postagem de 2007 de seu blog sobre o episódio.

A cobertura do incêndio de San Diego foi um prelúdio do papel importante que as hashtags teriam na organização das coberturas jornalísticas online e de jornalismo cidadão. Movimentos populares como o Occupy Wall Street, nos EUA, e os protestos durante as eleições iranianas de 2009 usaram as hashtags como forma de organizar as informações publicadas pelos usuários, diretamente do local dos acontecimentos. Ao mesmo tempo, os políticos descobriram o poder de mobilização hashtags. Em 2008, políticos conservadores americanos usaram a hashtag “#dontgo” (“não compareça”) para evitar a votação no Congresso de uma lei de energia.

Adesão do Twitter e demais redes sociais

Em julho de 2009, ao perceber que a invenção de Messina não era tão impopular, o Twitter adotou oficialmente a hashtag. Desde então, todos os termos precedidos por “#” se transformam automaticamente em links, que levavam à lista de publicações que compartilham do mesmo marcador (tag). À partir daí, a inovação ganhou vida própria. A comunidade online desenvolveu novos usos para a ferramenta. As hashtags viraram uma forma de comunicação cultural, típica do momento em que vivemos: resumem um sentimento ou uma ideia, em uma única expressão, que é imediatamente compreendida pelos leitores.

A força foi tanta que elas não demoraram a invadir outras redes sociais. Já inundado pelas hashtags há algum tempo, principalmente por conta do uso de aplicativos que publicam o mesmo conteúdo, simultaneamente, em diversas redes sociais, o Facebook aderiu oficialmente em junho de 2013. No Instagram, as hashtags são indispensáveis para classificar as imagens. Mas a rede social que mais investiu nas hashtags – mais até do que o Twitter – foi o Google+: ele faz sugestões para as suas publicações e mostra marcações relacionas às que você usou no post; quase uso mandatório.

Recomendações de hashtags no Google+ (Foto: Reprodução/ Giordano Tronco)
Recomendações de hashtags no Google+ (Foto: Reprodução/ Giordano Tronco)

Já consolidada, a hashtag provou que não é moda e sim uma linguagem que veio para ficar. Quanto ao seu entusiasta no Twitter, Chris Messina, ele hoje é membro da Open Web e OpenID Foundation, duas entidades sem fins lucrativos de apoio ao desenvolvimento de tecnologias livres para a web. Na sua atual conta do Twitter (@chrismessina), Messina se intitula o “padrinho do Hashtag”. Ele também trabalha como consultor de tecnologia e comunicação.

Visibilidade profissional à parte, o “padrinho do Hashtag” não ganhou um centavo com a sua invenção. Ele resolveu não patenteá-la, mesmo sabendo que isso lhe renderia milhões de dólares em direitos de uso, por saber que a patente iria limitar o uso da ferramenta em outras plataformas. “Não tenho interesse em lucrar (diretamente) com as hashtags. Elas nasceram da Internet e não devem ter dono. A satisfação que tenho de ver a minha pequena descoberta sendo usada o tanto que é hoje, faz com que eu me sinta aliviado de ter me dado conta de não tentar prender essa ideia estupidamente simples, mas eficaz”, respondeu em bate-papo com usuários do Quora, rede de perguntas e repostas.

Fontes: FactoryCity, Business Insider, Wall Street Journal e Zoeticamedia, TechTudo